A “crise de pato”, por Aline Doral Stefani Fagundes*
Diz o ditado popular que o pato voa, corre e nada, mas não faz nenhum dos três muito bem. Pois começo a achar que a mulher, de certa forma, é um pouco pato. Não, não se trata de uma crise de baixa autoestima. Ao contrário, é um ato de libertação.
Com a proximidade do Dia Internacional da Mulher, várias fisgadinhas ganham espaço: só tem “dia” quem é classe oprimida, os melhores chefs são homens etc. Na minha infância, muito embora ainda comum ver mães donas de casa que abdicaram de suas formações acadêmicas e profissionais para dar atenção ao lar, fui estimulada a ser uma mulher independente. Crescemos focadas na conclusão de um bom curso superior, no aprimoramento profissional e em nos colocarmos no mercado de trabalho com excelência. Em troca disso, muito pouco tempo sobrou para aprendermos a ser donas de casa, atribuição da qual não nos desvencilhamos. Guardadas as devidas proporções, e sem qualquer conteúdo crítico, é o que a história fez com os homens. Focados em trabalhar fora para sustentar a família, não raras vezes perderam de ver o primeiro dentinho do filho cair, e a habilidade na cozinha se revelava na maestria em aquecer a água do chimarrão.
Como toda mudança – que precisa partir de extremos para encontrar o caminho do equilíbrio –, os talentos femininos estão voltando à moda. Enquanto há pouco tempo era sofisticado uma mulher declarar que não sabia fritar um ovo, hoje já sustentamos com orgulho o comando do fogão, a última manta trabalhada em patchwork ou a bela horta de temperos arranjada na floreira da janela – tudo isso sem perder a reunião de pais na escola, ir à academia, entregar a tese de mestrado na data e atingir a meta de produção do mês no trabalho. Em contrapartida, a “crise de pato” é inevitável. Não há como fazer tudo isso bem feito sempre. Nada de culpa por não ter ânimo para tomar a matéria do filho, por querer levar a babá até na viagem de férias ou por adiar mais um ano aquele mestrado fundamental para a carreira! É bastante razoável para um dia em que já voamos, nadamos e corremos! Obrigada àquelas que por nós queimaram seus sutiãs, mas ser o sexo frágil tem consideráveis vantagens.
E que venha o Dia Internacional da Mulher!
*Mãe, dona de casa e juíza do Trabalho
Zero Hora – 06/03/2012