Artigo: Coditiano
Por Carolina Santos Costa, Juíza do Trabalho e Diretora Social da AMATRA IV
Em um dos dias do correr diário, em ida ou vinda da escola, aula de inglês, ou de tênis, uma filha questiona sua mãe: “Mãe, quem disse que a cor das meninas é rosa e a dos meninos, azul?”
A mãe, sem saber exatamente a resposta científica buscada, não querendo falar da Ministra, na corrida do levar, buscar, cuidar e trabalhar, explica: “Ah filha, isso foi uma convenção que se criou…”
E a menina insiste, querendo saber quando isso se criou, quem criou e por que o azul não é das meninas, ou o amarelo, ou qualquer outra cor, e a dos meninos o rosa, o roxo, o marrom, ou qualquer outra cor, ou por que é preciso que cada um tenha a sua cor e não possa escolher a cor que quiser, respondendo ainda: “A maioria das princesas usa azul: a Cinderela, a Branca de Neve, a Elsa, a Jasmin, a Bela…”
E dessa conversa, iniciada e parecendo tão singela, surgem muitas reflexões.
Não há qualquer justificativa ou razoabilidade para condutas ou discursos que discriminem ou diminuam a mulher. Isso porque homens e mulheres têm a mesma capacidade, constatação que também devemos à luta daquelas corajosas mulheres que antecederam aquela filha.
Não podemos deixar que o suor e o sangue de muitas se esvaia num recrudescimento dos preconceitos contra as mulheres. Somos mantenedoras, donas de lares, somos mães, filhas, estudantes, professoras, juízas, metalúrgicas, bancárias, poetisas, pesquisadoras, jornalistas, médicas, empresárias, artistas, domésticas, atletas, presidentes, cientistas, ministras, publicitárias, profissionais de todas as áreas. Ou não. Somos o que quisermos ser… Ainda bem!
Violência, assédio, tragédias, diferentes condições de trabalho e salário, e secções por gênero ainda existem, estão presentes em todos os segmentos da sociedade, mas não podem mais ser toleradas. De tantas, essa é a reflexão que fica. Básica e evidente, e que, infelizmente, em pleno 2019, ainda é necessária, sobretudo neste mês de março, em que é celebrado o dia internacional da mulher. Marcado para que se lembrem da igualdade de gênero, das lutas antigas de mulheres por iguais condições de trabalho e salário. E, depois do extenso dia de trabalho, fazer o jantar, conferir as lições de casa, banho, dentes escovados, a mãe diz à filha: “Filha, daquela conversa de hoje cedo, tens de saber que a cor não importa, nós somos o que quisermos ser, e usamos a cor que quisermos usar, mas (que bom!) sei que isso não é novidade pra ti”.