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AMATRA entrevista a ministra do TST Maria Helena Mallmann

Entrevista “mulheres no poder” – AMATRA IV conversa com a ministra do Tribunal Superior do Trabalho, magistrada Maria Helena Mallmann

Qual o papel do ensino na sua ascensão profissional?

Sem dúvida, a escola sempre tem papel importante e fundamental nas nossas escolhas. No entanto, desde sempre ouvi minha mãe dizer que o fato de ter nascido mulher não era impedimento para buscar espaços que diziam ser reservado para os homens.
O significado da igualdade e que é preciso lutar por aquilo que acredito me foi ensinado em casa.
Mas foi na escola, que era de mulheres, aprendi o significado do preconceito de classe, muito presente em escolas particulares naquela época. Possivelmente, não por outra razão, optei pelo Direito do Trabalho, ensinado por Joao Antonio Pereira Leite, Renato Gonçalves e Maria Aparecida Moretto.

O concurso público foi uma forma de buscar igualdade de gênero no mundo profissional ou isso foi irrelevante na sua decisão?

Depois de formada, atuei algum tempo como advogada e logo me decidi pela magistratura. No início dos anos 80, as mulheres enfrentavam dificuldades para serem aceitas nos concursos públicos. Havia restrições quanto ao estado civil, profissão do cônjuge, além de rigorosa pesquisa social. Lembro que as restrições no âmbito da Justiça do Trabalho eram mais brandas e mulheres e homens, separados ou divorciados, eram aceitos. Portanto, enfrentar concurso público nos anos 80, transcendia à questão de igualdade de gênero, exigindo, em especial, das mulheres muita determinação.

Quais os três principais desafios enfrentados na construção de ser uma mulher expoente em sua área profissional?

Não consigo separar o êxito profissional do êxito pessoal. Não por outro motivo, considero que o maior desafio foi compatibilizar o papel de mãe e magistrada. Foi extremamente difícil deixar os filhos menores em casa e sair para atender Varas em lugares distantes e dedicar boa parte do tempo ao exame de processos. Fiz o que pude. Mas isso não me absolve das ausências sentidas por meus filhos Tiago e Marcelo. Manter o olhar feminino em ambiente em que predomina a racionalidade masculina também foi e continua a ser um grande desafio. Exige-se muito mais da mulher do que do homem. Não foi e também não é diferente no Poder Judiciário. Qualquer deslize é atribuído à condição de mulher.
Ainda como desafio, coloco o enfrentamento do dilema – qualidade x quantidade. As dificuldades se repetem. Podem ser diferentes nos diversos graus de jurisdição mas são iguais na sua essência. No Tribunal Superior do Trabalho meu resíduo chega a 18 mil processos, com distribuição mensal superior a 1000 processos. A curto prazo, não vejo solução para esta questão.

Acredita que houve evolução na questão de gênero desde o início de sua trajetória profissional? No geral, observa que as mulheres no mercado de trabalho caminham hoje por uma estrada com menos obstáculos?

Sem dúvida. A questão de gênero ganhou espaço na sociedade. As mudanças aconteceram não só no âmbito legislativo como também no comportamento de mulheres e homens. E como marco das conquistas neste século cito, a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio.
Mas, no mercado de trabalho, os obstáculos continuam: mulheres ganham menos (a diferença aumenta em cargos gerenciais) e continuam a dividir a sua vida profissional com os afazeres domésticos, situação agravada durante a pandemia.
A opção pelo homem para os empregos formais é uma dura realidade.

Em sua análise, qual a saída para termos mais igualdade de gênero num país que ainda lida com a desigualdade salarial entre homens e mulheres (na casa dos 30% a menos para elas) como se fosse algo satisfatório e normal?

Além de leis de protetivas, há necessidade de implantação de políticas públicas voltadas a favorecer a participação das mulheres no mercado de trabalho. Filhos pequenos não podem ser obstáculos da participação feminina. Este problema se soluciona com aumento da oferta de creches. O maior compartilhamento dos afazeres domésticos também é fator decisivo para reduzir a diferença entre homens e mulheres. O incentivo de participação da mulher na política aponta para que no futuro, no meu modo de ver, as mudanças necessárias para que a tão almejada igualdade se torne realidade.

No Dia internacional da Mulher desse 2021,qual seria a sua mensagem a para a menina Maria Helena?

Vai em frente, segue teu caminho!
E para minhas netas Maria Valentina e Joana, mulheres do Século XXI: sejam felizes e não percam a empatia e a capacidade de se emocionar!

Foto: Divulgação

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